7 de dez. de 2009

O autismo não existe! - a busca pela cura como barreira para inclusão

Não existe cura para autismo. Nem nos EUA, nem em lugar nenhum do mundo. Autistas, não precisam ser curados, precisam ser respeitados. O que precisamos é oferecer dignidade, habilitação e reabilitação para uma vida independente, com o máximo de autonomia possível.

Na verdade, o autismo não existe. O que se faz, na tentativa de se negar o autista que é real e que está lá, é caçar um fantasma que supostamente tomou conta de nossas crianças “normais” , o tal do autismo.
Quem existe são autistas que sofrem pela negação por parte de pais e profissionais, que não são aceitos nas escolas e que não tem instituições que os apóie na inclusão, que pagam caro por não cumprir as expectativas de uma sociedade, ou de uma família que esperava um filho "padrão", ou “normal”.
Neste sentido a busca da cura do autismo é vã, deletéria e, muitas vezes, prejudicial quando colabora para aumentar o preconceito que afasta mais ainda o autista da aceitação por sua família e da sociedade, de seus direitos fundamentais e de sua dignidade inerente.
Precisamos sim de mais profissionais especializados em incluir o autista na comunidade, na escola, na sociedade. Precisamos de mais centros preparados para o diagnóstico, a habilitação e reabilitação do autista - isto não deve significar centros de segregação de autistas, ou residências fora da comunidade, mas centros que apóiem os autistas para uma vida independente. Precisamos de pesquisas para entender melhor o autista, para construir e oferecer técnicas de comunicação alternativa e para ajudá-los a regular melhor seu comportamento.
Nada do que é necessário é justificativa para se coisificar o autista, para se tratar o autista como um ser humano menor, alguém doente que precisa de tratamento pelo simples fato de ser o que é.
Autistas precisam de tratamento pra gripe, pra depressão, pra convulsão, pra bicho-de-pé, prum monte de coisas igual a todo mundo, inclusive  compulsões nocivas como se bater demais, jogar demais, beber demais, comprar demais, falar palavrão demais, quebrar coisas demais.
O autismo em si não se trata, já que ele não existe, e o autista não pode ser tratado dele mesmo. Quem vai sobrar depois desse tratamento? A pessoa que deveria existir e que também nunca existiu por conta do fantasma do autismo?
Tratar o autismo significa tornar o autista mais "sociável"? Então, sugiro que se mude esse ponto de vista.
O que deve ser oferecido para o autista é a oportunidade de maior participação, contato social, de construção da sua vida com maior independência possível, com o apoio da família e de seus pares. Isto não significa tratar o autista ou autismo, nem busca de cura. Isto é habilitação e reabilitação.
Durante muitos anos, e até hoje em dia, o discurso que se aplica é que o autismo é uma bomba que destrói famílias. É fácil dizer que o autista não se coloca no lugar do outro, difícil é se colocar no lugar do autista.
Nós, autistas e familiares, precisamos pensar em respeito às diferenças, dignidade e acolhimento. Promover o respeito, a inclusão e fazer mudar o que se pensa e o que se diz sobre o autismo e os autistas.
Até logo,
Alexandre Mapurunga
Irmão do Pablo e Giordano e, também, do Biel,  Tetê, Gustavo e da Natália
Pai da Allana e, também, da Júlia, Mariana e da Larissa
inclusaoediversidade.blogspot.com
www.twitter.com/amapurunga

6 comentários:

  1. Oi Alexandre concordo em genero e número com seu pensamento, hoje mesmo teve uma comemoração na escola que meu filho estuda,
    e leram um dos meus poemas, alias Gabriel leu um trecho dele, foi uma surpresa que me emocionou muito...
    E quando me pediram para falar, eu disse extamente isso, que eu não posso curar meu filho dele mesmo, e que eu queria é que ele fosse aceito, inserido,
    e respeitado em sua maneira diferente de ser. Acolhido, ajudado a estar no nosso contexto de vida, com amor...
    Gabriel chegou lá e a primeira coisa que fez foi entrar na sua sala, e trocar o calendário, Segunda feira , dia 7... ninguém o impediu porque não era aula ,ou apenas festa, isso é respeito.
    Parabéns, precisamos sim buscar todos os caminhos para que eles não se tornem mais as crianças do sóton, e sim seres participantes, com suas peculiaridades,mas atuantes.
    Parabéns por suas colocações muito pertinentes...
    abraço fraterno,
    Liê e Gabi autista

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  2. Oi Alexandre,
    O que vc coloca no seu texto, além de ajudar os nossos filhos a terem uma vida melhor e se sentirem mais amados, também nos liberta. Tenho uma filha com síndrome de Down (e outra sem a síndrome), e sou muito dedicada com relação à reabilitação, porque sei o quanto isso é fundamental para que ela tenha uma boa qualidade de vida e possa atingir o máximo de autonomia. Mas não tenho mais esta avidez de "consertá-la"; logo quando descobrimos a deficiência dos nossos filhos, é muito comum sair no desespero atrás de todos os tratamentos e promessas de melhora (ou até de cura!)... Temos, com os nossos filhos, uma grande chance de contribuir para "consertar" o mundo; não precisamos "consertar" os nossos filhos, para que eles caibam no mundo.
    Parabéns pelo texto! Um abraço,
    Ana Paula

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  3. Na época que escrevi esse texto inicialmente uma "reposta" a alarmante declaração de uma representante de entidade de que se não investíssemos pesado para curar nossos autistas não importava muito "que mundo deixaríamos para nossas crianças, mas sim que crianças deixaríamos para o mundo".
    Este tipo de pensamento faz com que não se enxergue a pessoa inteira por trás do autismo.

    Na época o artigo foi copiado em dezenas de blogs, passeando na Internet percebi que o texto ainda repercute e é bastante comentado em outros blogs:

    http://gritodemudanca.blogspot.com/2010/01/o-autismo-nao-existe-busca-pela-cura.html

    http://fonopriscilafelix.blogspot.com/2010/01/o-assunto-e-autismo.html

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  4. OLA, EU TENHO UM SOBRINHO QUE AUTISTA ,DESCOBRIR RECENTEMENTE ,MORAMOS EM FORTALEZA ,CEARA.E UM POUCO DIFICIL SABER COMO ENSINAR A ELE ,AQUI TEM POUCAS ESCOLAS PARA ELE E PESSOAS NAO RESPEITAM OSEU JEITO DE SER .VOÇE PODERIA ME ENVIAR ASSUNTOS SOBRE ALTISMO POIS O QUE SEI E O QUE ENCONTRO NA NET,www.katiusciamaria1982@yahoo.com ja agradeço

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  5. Oi Katiuscia,
    Indico que você procure a Casa da Esperança: (85) 30814873
    Veja o site: http://www.autismobrasil.org/
    Um forte abraço...

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